26
Nov 09

Na minha sombra

guardo os meus tesouros:

a minha fortuna,

o meu amor,

a minha glória.

Toda a luz

nesse escuro lugar

da minha alma

repousa

e se contenta.

publicado por nanferdinan às 16:52

Perto de ti,

nas tuas cercanias,

começa a eternidade.

Tão perto

que encontrar-te

será perder-me

para sempre.

publicado por nanferdinan às 16:47

Eu sei que os rios correm lentos. Porque, observando os rios lentos, reparo que eles são diferentes dos rios rápidos. E, observando os rios rápidos, reparo que eles são diferentes dos rios lentos. Mesmo aos meus olhos lentos, os rios rápidos correm rápidos, e sei que os rios lentos nos meus olhos rápidos permanecem lentos. E às vezes os rios lentos fazem-se rápidos, e os meus olhos rápidos vêem-nos rápidos e os meus olhos lentos vêem-nos rápidos. Porque eles são rios rápidos nas fases em que não são rios lentos, nas fases em que as suas almas de água não precisam de vagares a caminho dos seus destinos. E às vezes os rios rápidos são rios lentos, são lentos quando são lentos, e é por isso que os rios rápidos são rios lentos e os rios lentos são rios rápidos, rápidos quando são rápidos aos meus olhos rápidos e aos meus olhos lentos. E sei também que o carácter dos rios nunca se altera com as suas vicissitudes. 

publicado por nanferdinan às 16:34

Amo-te hoje um pouco melhor do que te amei ontem, porque o meu amor de ontem sentia a falta do meu amor de hoje para ser perfeito. Mas não hei-de amar-te amanhã melhor do que te amo hoje, porque o meu amor de hoje não pode sentir a falta de um amor que ainda não tenho por ti.

publicado por nanferdinan às 16:27

12
Nov 09

O que direi das colinas inquietas que despem a imensa planície até à tua nascente de carne? Direi que são quentes e cheias e lentas e brancas - e que eu fujo, fujo delas, que me sabem a mãe e me retêm no berço.

publicado por nanferdinan às 15:20

Um de nós suicidou-nos,

meu amor,

teve a amabilidade

de nos extinguir.

Um de nós sofreu-nos,

chorou-nos

no desamparo aflitivo da alma.

Um de nós

reabriu todas as dores,

incendiou todas as feridas,

ferveu todas as lágrimas

que não nos quiseram os olhos.

Um de nós, meu amor,

revisitou-nos

o inferno doce

da nossa incerteza.

Decantou toda a angústia,

remexeu toda a tragédia,

apunhalou todo o suplício

que se debatia,

moribundo,

no terreiro da nossa batalha.

Um de nós venceu-nos,

expulsou-nos de dentro de nós,

terminou-nos,

ruiu-nos,

eliminou-nos do tempo,

do espaço, do vento,

fuzilou-nos

com tiros de fúrias e raivas,

imolou-nos

no nosso próprio fogo doente,

sim,

no nosso fogo arrefecido

porém quente,

naquele fogo sitiado

porém nuclear, porém medonho,

porém de tentáculos ardentes,

porém insano,

imoral,

esse fogo que nos fez,

que nos criou,

do qual saímos sempre cinzas,

sim,

esse fogo doido,

esse fogo apagado

porém vivo,

esse fogo bandido,

mortífero,

que se emboscava

no ventre exaltado

das nossas memórias

por pagar.

Um de nós

desceu ao arquivo morto

dos nossos actos primordiais,

dos nossos desejos intactos,

e perfurou um a um,

ávido,

os olhos inocentes

de todos os nossos sonhos de amor.

Um de nós cegou-nos,

teve a piedade

de nos escurecer

a morte,

a visão arrasadora da nossa indignidade,

da nossa perfídia,

da nossa queda livre

no chão seco onde se esboroam

os amantes que traem as suas almas.

Um de nós,

meu amor,

varreu-nos da história,

dissolveu-nos no nada,

devolveu-nos àquele lugar sagrado

onde, extremamente puros,

nunca existimos.

Por isso, meu amor,

um de nós,

hoje,

matou-nos.

publicado por nanferdinan às 14:47

09
Nov 09

Hoje

deixei-me

morrer-te 

publicado por nanferdinan às 18:57

05
Nov 09

Devíamos talvez ter adormecido um no outro,

e enquanto dormíssemos,

enquanto fôssemos inócuos,

deixássemos que o tempo

se esvaísse de nós.

Porque passavas a vida a morrer-me,

habituei-me a amar os teus longes olhos

imersos nas trevas,

enquanto assistíamos,

quietos, ilúcidos,

ao cortejo fúnebre do nosso amor.

Devíamos talvez ter morrido um no outro,

e enquanto morrêssemos,

enquanto fôssemos cadáveres,

deixássemos que o tempo

se arrependesse de nós.

Porque passava a vida a amar-te a morte,

tu criaste o hábito de não me existires,

serenamente dissimulada,

enquanto assistíamos,

quietos, ilúcidos,

ao cortejo fúnebre do nosso amor.

Devíamos talvez ter crescido um no outro,

e enquanto crescêssemos,

enquanto fôssemos vingando,

deixássemos que o tempo

tomasse conta de nós.

publicado por nanferdinan às 16:47

Dir-te-ia

que me levasses daqui

para longe, tão longe de ti,

se eu não fugisse de mim

para perto, tão perto daqui.

(Que nestas manhãs acordadas cedo

te ausentas do meu poema

e do meu corpo

para longe, tão longe

dos lugares comuns

ao nosso amor.)

publicado por nanferdinan às 16:38

Naquele tempo, os teus lábios frequentavam os meus beijos e éramos serpentinos, longos, intermináveis. Lembro-me às vezes de como te sabias minha, tão só minha como a pele dos meus lábios frequentes nos teus beijos. Naquele tempo, lembro-me às vezes, o desejo exilava-se nas metástases do nosso amor e era um passageiro frequente dos teus lábios nos meus beijos serpentinos, longos, intermináveis. Ah, como te sabias minha naquele tempo em que os teus lábios frequentavam as metástases do nosso amor. Ah, como morreram, frequentes, os teus lábios nos meus beijos. Como morreram longos e serpentinos, longos e intermináveis, naquele tempo.

publicado por nanferdinan às 16:33

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