28
Out 09

Deseja-me,

podes estender os teus longos abraços de fogo,

mulher,

até onde me ardas,

até onde me sejas um inferno,

um pecado mortal,

até onde tomes posse

do meu corpo quente,

ah, tão quente,

até onde me fervas o sangue

e as vísceras

e os ossos se derretam e extingam

no teu vórtice ardente,

até onde me saibas ao fim dos tempos,

até ao cair incendiado do último sol,

até onde o próprio deus

não ouse compadecer-se de nós.

Deseja-me, mulher,

mas não te insistas em mim.

Não te repitas em mim.

Não ecoes em mim.

Deseja-me como uma lâmina no ventre,

como uma ferida aberta,

como uma fúria aberta,

deseja-me lenta, voraz, desperta,

deseja-me atenta ou distraída de mim,

mas não me repitas,

mulher,

não te insistas,

mulher,

deseja-me uma vez,

uma única vez,

deseja-me com um amor sem réplicas,

uma vez só: e depois foge,

e depois corre

com os teus passos mais rápidos de correr,

foge com o teu medo

nos passos do teu instinto,

não me repitas,

não me insistas,

não ecoes em mim,

porque eu não quero,

eu não quero pensar em ti

como se fosses minha,

mulher.

publicado por nanferdinan às 17:13

Tenho o mau hábito de te amar

na luxúria dos meus dedos,

assim lento, lento, lento,

como se o nosso prazer não tivesse um estuário

e o nosso amor,

esse amor desse prazer desses dedos,

fosse a ecografia de um nado-morto.

publicado por nanferdinan às 17:08

Gosto de te ouvir os sons

de me morreres

nos cansaços

do nosso amor

publicado por nanferdinan às 17:05

15
Out 09

Devíamos talvez ter adormecido um no outro,

e enquanto dormíssemos,

enquanto fôssemos inócuos,

deixássemos que o tempo

se esvaísse de nós.

Porque passavas a vida a morrer-me,

habituei-me a amar os teus longes olhos

imersos nas trevas,

enquanto assistíamos,

quietos, ilúcidos,

ao cortejo fúnebre do nosso amor.

Devíamos talvez ter morrido um no outro,

e enquanto morrêssemos,

enquanto fôssemos cadáveres,

deixássemos que o tempo

se arrependesse de nós.

Porque passava a vida a amar-te a morte,

tu criaste o hábito de não me existires,

serenamente dissimulada,

enquanto assistíamos,

quietos, ilúcidos,

ao cortejo fúnebre do nosso amor.

Devíamos talvez ter mirrado um no outro,

e enquanto mirrássemos,

enquanto fôssemos esvanecendo,

deixássemos que o tempo

existisse sem nós.

publicado por nanferdinan às 14:59

07
Out 09

Um beijo iria talvez imolar-nos

num rodopio de fogo.

Serias capaz de confiar a tua vida

à nossa morte?  

publicado por nanferdinan às 02:43

05
Out 09

As mãos de uns olhos fechados, tão ilícitas, podem causar fomes e sedes no corpo de uma mulher. São mãos telúricas, mãos de acaso, que culpa têm? O braille do amor vê com os olhos da alma, não é obediente senão à sua errância, senão ao seu fogo, senão à sua insensatez. As mãos de uns olhos fechados nunca se perdem, nunca no corpo de uma mulher.

publicado por nanferdinan às 21:39

Outubro 2009
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3

4
5
6
7
8
9
10

11
12
13
14
16
17

18
19
20
21
22
23
24

25
26
27
29
30
31


subscrever feeds
arquivos
2012

2011

2010

2009

mais sobre mim
pesquisar neste blog
 
Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

blogs SAPO