Devíamos talvez ter adormecido um no outro, e enquanto dormíssemos, enquanto fôssemos inócuos, deixássemos que o tempo se esvaísse de nós. Porque passavas a vida a morrer-me, habituei-me a amar os teus longes olhos imersos nas trevas, enquanto assistíamos, quietos, ilúcidos, ao cortejo fúnebre do nosso amor. Devíamos talvez ter morrido um no outro, e enquanto morrêssemos, enquanto fôssemos cadáveres, deixássemos que o tempo se arrependesse de nós. Porque passava a vida a amar-te a morte, tu criaste o hábito de não me existires, serenamente dissimulada, enquanto assistíamos, quietos, ilúcidos, ao cortejo fúnebre do nosso amor. Devíamos talvez ter crescido um no outro, e enquanto crescêssemos, enquanto fôssemos vingando, deixássemos que o tempo tomasse conta de nós.